domingo, 17 de outubro de 2010

Bate papo com preparador físico Diego Falcão

Defesa e Ataque: Conte como o basquete entrou na sua vida.

Diego Falcão:Fui criado em uma família que adora esporte, mas, como toda criança brasileira, adorava e adoro futebol. Comecei jogando no campeonato da federação de futebol e assim joguei até os 13 anos, no entanto, na escola em que estudava, o basquete era um dos melhores esportes e isso me chamou atenção e fez com que eu começasse, por acaso,  jogando as famosas ''peladas'' no intervalo das aulas. Depois disso, me apaixonei pelo esporte e a coisa foi ficando mais séria. Joguei até os 22 anos no nível regional e hoje pelo amor que tenho pelo esporte e pelo treinamento, fiz disso minha profissão.

 DA: Quais suas experiências na modalidade? Descreva seu desenvolvimento profissional até hoje.

DF: Não vejo minha experiência no basquete apenas como prática; acho que a modalidade teve uma influência muito grande na minha vida pessoal, desde a  socialização até a educação, por isso acho de fundamental importância a educação através do esporte.
Meu desenvolvimento profissional surgiu na minha cidade, João Pessoa – PB, quando tive como referência meu técnico Adriano Lucena que, além de ser muito detalhista, era, acima de tudo, um grande educador; ele foi muito importante na minha adolescência, foi um verdadeiro mentor.
Sempre gostei muito do físico, até mesmo por minhas limitações técnicas; depois, por curiosidade, comecei a estudar o que acontecia no corpo durante o treinamento e comecei a descobrir o que acontecia no meu corpo, por isso fui fazer Educação Física. Ainda, durante a graduação, fiz um curso na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, ministrado por Alexandre Sérgio, em Fisiologia do exercício; após esse período, tive uma melhora nos conceitos de treinamento desportivo com um decatleta e hoje professor, José Ricardo, que acrescentou muito a minha vida prática em relação a periodização e ao planejamento da prática (coisas totalmente distintas!!!); neste momento, então, decidi fazer meu trabalho de conclusão de curso voltado ao basquete de alto nível (mesmo morando em uma cidade onde não existia referência para atletas de basquete) e criei meu objetivo de morar em SP já que aqui é o pólo da fisiologia e a excelência do esporte brasileiro. Chegando em SP fiz Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício na UNIFESP e tive a felicidade de trabalhar no grupo de estudo do laboratório do CEFE (Centro de Estudo de Fisiologia do Exercício) onde adquiri uma enorme experiência com esporte de rendimento e, principalmente, com pessoas de diversas áreas (Biomédicos, Estatísticos, Médicos)  que trabalhavam com outros esportes transmitindo a vivência de cada uma dessas modalidades. 
Na prática, iniciei o trabalho em mim mesmo, ainda na minha cidade, através da realização de alguns testes e treinos; seguidamente passei 4 anos treinando jovens, universitários e trabalhando em uma grande academia; após isso, cheguei em São Paulo e trabalhei na categoria de base, tanto masculina quanto feminina, no CFE-Janeth em Santo André por um período de 2 anos, passando assim por São Bernardo e Rio Claro com a Ulbra e pela Metodista São Bernardo com um projeto novo e grande; atualmente me encontro no time da Seleção Brasileira U18 e auxiliando juntamente com Diego Jeleilate, a seleção principal.
DA: O que a CBB tem feito a nível científico com seus atletas em termos de preparação física? E se há um planejamento para todas as categorias?

DF: Em relação ao planejamento, existe sim. A CBB criou, recentemente, um Departamento de Ciência e Performance que é coordenado pelo Reginaldo Senna; neste mesmo departamento ainda temos um coordenador responsável pela preparação física, Diego Jeleilate, que visa trabalhar de maneira inter e multidisciplinar, objetivando melhorar o suporte dado aos nossos atletas.
Hoje na CBB estamos com um projeto de treinamento à distância elaborado por mim, Rafael Fachina e Diego Jeleilate, onde o objetivo é aproximar, detectar e dar parâmetros de testes e do perfil dos nossos atletas para todas categorias até a adulta, ou seja, estamos trabalhando para o basquete ser uma referência da ciência e do treinamento aplicado e esperamos que, em breve, possamos ter resultados, afinal, o esporte de alto nível é resultado. Na categoria adulta já estamos a quase dois (02) anos criando um critério de avaliação e detectando como podemos melhorar nossos atletas; os resultados obtidos são apresentados e, através disso, mostramos como nossos atletas podem melhorar e a maneira adequada de alcançarem isso através dos treinos... esse critério já tem nos mostrado e demonstrado uma diferença no nível de treino dos nossos atletas em dois anos. Este ano estamos buscando melhorar o nível de treino da categoria de base, mas sabemos que é um processo lento, já que dependemos dos clubes e, principalmente, de todos os estados brasileiros.

DA: A partir de qual idade você acha correto iniciar treinamento físico específico? e quais seriam eles?

DF: O treinamento físico, hoje, tem que começar o mais cedo possível, mas nada específico. Exercícios de calistenia, coordenação, conhecimento corporal e exercícios lúdicos, adicionando força (de acordo com a idade) e outras capacidade físicas, acho de fundamental importância o conhecimento do jogo, e isso se deve iniciar na atividade pré-desportiva (Lúdica), nos primeiros anos de basquete, para melhorar o conceito coletivo durante o jogo. A idade para um treinamento físico mais específico, geralmente é iniciado entre as categorias U16 a U17, mas isso é totalmente dependente da relação idade biológica x cronológica, já que, em muitos casos, existem atletas mais novos, mais preparados para iniciar um treino específico mais cedo, mas, geralmente, são exceções que acontecem quando o atleta é verdadeiramente diferente.
DA:  Você viajou pelo Brasil dando clínicas de preparação física pela CBB. O que pode nos dizer em relação a preparação física que vem sendo dada para nossos atletas de base?
DF: Tive a felicidade de participar e de ministrar clínicas de preparação física Eletrobrás nas 5 regiões do Brasil; para mim, é verdadeiramente um prazer muito grande já que vejo uma realidade muito difícil, hoje, realmente, a preparação física para atletas é bastante discutida,  mas o conceito da preparação física no Brasil, em todas categorias de base, ainda precisa melhorar muito, da mesma forma que o treinamento no alto nível precisa de algumas mudanças, tanto no conceito (Treinamento), quanto na forma que é aplicado o treino, temos que mudar o mais rápido possível a cultura de treinamento dos nossos atletas se quisermos ser um esporte de elite com chances de medalhas olímpicas.

DA: O blog foi feito com o intuito de passar informações para todos que buscam orientação. Você pode nos dizer como a preparação física evoluiu nas ultimas décadas e quais exercícios que antes eram comuns e hoje não fazem mais parte dos treinamentos? Poderia citar uma linha atual de tipos de exercícios para a modalidade?

DF: A preparação física mudou bastante nos últimos 20 anos e isso tem sido demonstrado através de resultados, tempo dos esportes, e no perfil dos atletas, cada dia mais fortes e rápidos.
Na verdade, a Educação Física vive de moda; na parte física já tivemos a moda do treino concorrente (Corrida x força), moda do treino intervalado (Fart-lack), apenas o treino aeróbio (corridas longas para teoricamente melhorar a resistência do atleta) e hoje, a moda é o treino funcional, já vi muitas pessoas falando que os exercícios funcionais são a solução de todos os problemas mas, na verdade, não penso assim. Acho que em tudo devemos analisar quem faz, qual objetivo, o que ele verdadeiramente utiliza no jogo. No basquete a necessidade de um pivô é diferente da de um armador, temos que saber como deixá-lo mais a vontade para quando for solicitar seu esforço físico no maior estresse. Para mim, não existe treino errado, pode não ser o adequado para a pessoa ou para o momento, e esse é o grande segredo de uma preparação física moderna.
Quando falamos no basquete, citamos um caso típico de uma linha de treino que hoje falamos antiga que é o caso de atletas perderem muito tempo fazendo treinos aeróbios e principalmente sem bola; hoje, temos que potencializar o nível do treino (Tempo, Físico e Técnico). No meu ver,  devemos aproximar, cada vez mais, a parte física da técnica e em relação aos jogadores de basquete, penso que o fator determinante para que haja sucesso é que ele, o atleta, seja simultaneamente o mais rápido e forte possível... acho que esse é o segredo do basquete, trabalhar força, velocidade e resistência de velocidade; se o atleta fizer isso bem feito, ele terá uma grande possibilidade de ter menos lesão durante sua carreira e, principalmente, ter mais facilidade para jogar em uma equipe de basquete de alto nível.

DA:  Qual seria a idade adaquada, em média, para um atleta de base começar a fazer musculação?

DF:
Não existe idade adequada, existe uma estrutura adequada (Isso é o mais difícil!!!!). Hoje, o começar a fazer musculação é diretamente dependente da estrutura, afinal não é fácil ter mais de um profissional na sala de musculação (Afinal estamos falando de crianças) e equipamentos com estrutura para comportar um iniciante. Poder começar, ele pode começar com 10, 11, 12 anos tudo depende de onde está esse atleta; sabemos que existe diferença entre a maturação, entre indivíduos e, principalmente, entre sexo, o que de fato é importante citar, já que para criança e adolescente temos outros recursos para treinamento de força como o uso do corpo e da medicine ball que são estratégias muito boas e com resultado significativos. Colocando o  atleta em uma estrutura de academia por volta dos 14 anos, já pode ser iniciado um treinamento educativo para que, quando o mesmo estiver com 16 - 17 anos, se inicie um treino mais específico para sua necessidade.

DA: O que acha de suplementos para atletas? quais voce indicaria e qual idade pode se começar a utilizá-los?
 
DF: O uso de suplemento, hoje, para atetas de alto nível é indispensável, a idade para começar depende de outros fatores como da sua demanda energética (Gasto x Consumo) mas isso o profissional da Nutrição faz com propriedade, o que é bom sempre citar. Quanto a indicação, para atletas de alto nível e brasileiros, acho interessante sempre ingerir suplementos nacionais já que os produtos internacionais tem um grande índice de contaminação o que acaba tornado-se um risco para o atleta; ressalvo ainda que escolham suplementos que estejam com as normas da WADA (Agencia Mundial Anti-Doping), evitando assim, problemas futuros. 

DA: Qual dica você pode dar para os garotos e garotas que querem iniciar no esporte?

DF: Penso que a criança que faz esporte é uma criança mais feliz, espontânea, fora que tem um lado social maior que as que não praticam esporte algum. Esporte não é para ser feito apenas para quem quer ser atleta, esporte é para ser feito por quem quer viver bem e ser feliz, é um ensinamento para a vida toda!!! 
Se hoje estou aqui, de fato é por que o esporte me encaminhou.





 
Considerações finais:
Gostaria de parabenizar o blog pelo    trabalho e   espero que, em breve, esse seja um local de grandes debates e reuniões online.

Quero aproveitar o espaço para agradecer a todos que contribuem diretamente no meu trabalho: Técnicos, preparadores físicos, atletas, amigos e principalmente minha família.
Agradeço a DEUS e NOSSA SENHORA de FÁTIMA pela serenidade, luz e felicidade que eles me dão todos os dias...

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