Quem de nós que amamos, vivemos e trabalhamos com o basquete não se
decepcionou profundamente com o fiasco que aconteceu com a seleção masculina
adulta nessa semana durante os quatro jogos da primeira fase da Copa - América,
que classificava para o mundial?
A grande pergunta que fica quando vemos uma seleção adulta
nacional fracassar é a seguinte: Como realmente é feito o basquete no Brasil?
Se observarmos os recentes resultados de
seleções de base veremos que regride a passos largos. Nos últimos meses a
seleção sub-17 ficou em 3° lugar no Sul Americano, a sub 19 ficou em 10° no
Mundial, ano passado a sub 15 ficou em 4° no Sul Americano e perdeu um ciclo de
experiência internacional importante para a geração. E sem falar nos últimos
anos, tantos e tantos torneios que mostram nitidamente que nosso basquete
regride, perde força, perde moral e cada vez mais fica sem identidade.
O fiasco dessa Copa América da seleção
adulta faz definitivamente com que as pessoas que amam e trabalham diretamente
com a modalidade fiquem incomodadas e reflexivas. Onde está o real problema?
Levanto algumas questões que englobam essa
pergunta:
- Magnano é realmente um super técnico?
- A CBB continua a mesma depois que Grego
saiu?
- Em que realmente a ENTB tem colaborado
com o crescimento do basquete?
- Qual a parcela de culpa dos clubes e
federações nesse caos instalado?
Vou colocar minha visão sobre cada tema e
afirmo que não sou dono da verdade e da razão, mas também não sou um leigo
qualquer, que cai de pára-quedas num assunto.
-Ruben Magnano foi sim importante para uma
mudança de postura nos atletas que sempre desrespeitaram a seleção. Os mesmos
que pedem hoje dispensa, também já pediram antes em outras oportunidades e que
com outros técnicos à frente da seleção, faziam dezenas de baladas em época de
treinamento e preparação dos torneios, mesmo durante as competições, viram que
com Magnano a coisa seria diferente nesse ponto, ou assumiam sua parte ou ficavam de fora e encaram as conseqüências.
Mas vendo os últimos jogos da seleção, que
não teve padrão tático nenhum, jogadores mal escolhidos nas posições, falta
de motivação, começo a pensar que aquela geração argentina de Manu Ginobilli e companhia, faria 70% dos técnicos argentinos que dirigissem a seleção nacional, no mesmo período
que Magnano dirigiu, um super técnico.
E não vou nem entrar no mérito de que tudo
sempre foi feito com portas fechadas, com mil segredos, sem informações para
imprensa e sem microfones no tempo técnico.
- Sim a CBB continua a mesma, pois Carlos
Nunes já fazia parte da turma do Grego durante os oito anos que ele esteve à
frente da CBB. A vinda de ex-atletas para a coordenação das seleções melhorou
muito a relação atletas/CBB. Vanderlei e Hortência, bem ou mal, falavam a língua
dos atletas e levaram sua vivencia para os comandantes, sendo um canal nesta
relação.
Agora, se a administração continua ruim,
dividas e mais dividas impedem jogos e torneios amistosos internacionais para
desenvolvimento de jovens promessas nas seleções da base e para os técnicos que
fazem parte dessas seleções, podemos
concluir que nada mudou. É a mesma visão antiga do pensamento mesquinho e
preocupação com o bolso, cargo, viagens, regalias e poder.
Além de falta de organização com
campeonatos internos como os brasileiros de base. Como uma seleção brasileira
pode ser formada antes de um brasileiro da categoria acontecer? Isso acontece
com freqüência.
Os técnicos do quadro da CBB são obrigados
a pedir informações para várias pessoas e convocam os atletas sem nunca terem
visto os mesmos jogarem. E com um tempo limitado fica quase impossível cortar e
reconvocar outros atletas. Também temos visto no quadro da CBB técnicos de
federações, onde existe um número muito reduzido de equipes e jogos, e que além
de estarem longe do grande centro do basquete, São Paulo, ficam com pouco ritmo de
jogos pegados e próximos da realidade da pressão exercida nos torneios internacionais.
- Na minha opinião, os cursos da ENTB( Escola Nacional de
Treinadores de Basquete) teriam que ser gratuitos. Digo isso porque os
treinadores, professores e estudantes que querem aprender, reciclar e trocar
informação com técnicos mais experientes têm que se locomover, se hospedar, se
alimentar e pagar um valor de 400 reais para um curso de quatro dias. Todos
falam de massificar a modalidade e através dessa escola, a meu ver, poderíamos
ter conceitos pré-definidos por um grupo de técnicos escolhidos a dedo. Esses
conceitos seriam passados para todos os técnicos no curso e trabalhados em
clubes e escolas. Aí vão dizer : todos vão ficar iguais? Em alguns conceitos
sim, pois os atletas poderiam visualizar uma chance real de chegar numa seleção
nacional de sua categoria, e os conceitos trabalhados no clube, também seriam
os que eles encontrariam nas seleções. Em relação aos técnicos, cada um põe seu
tempero e conhecimentos em áreas técnicas e táticas que ficariam em aberto. Mas
nada disso deve passar pela mente das pessoas que estão no comando.
- As federações e clubes têm rivalidade
com a CBB e dependendo dos imortais que estejam no cargo da presidência, uma
boa relação entre federação e CBB é algo quase impossível de acontecer. Quem
sai perdendo é a modalidade, pois na guerra política e pessoal nada é feito
pelo bem do basquetebol brasileiro.
Mentes pequenas e ambiciosas continuam a
frente dos comandos, estatutos e brechas em leis são mudadas para a
perpetuação dos mesmos.
Esse é só um pequeno esboço da minha visão
sobre estes aspectos. Claro que existem dezenas de situações a serem
levantadas, mas para começar a discutir sobre o que podemos mudar, estes temas
já dão muito pano pra manga.
Enquanto não falarmos o que enxergamos, enquanto ficarmos quietos,
aceitando tudo o que acontece, teremos sempre esses momentos de frustração e
revolta com as pessoas que estão, no momento, no comando. Entrar em ação é
obrigação de quem se diz amante do basquete brasileiro.